Não existe erro de português

Bagno, Marcos. Preconceito Linguístico – o que é, como se faz. São Paulo, Editora Loyola, 6º edição, 1999. 148 páginas. 
   Preconceito Linguístico – o que é, como se faz foi publicado pela editora Loyola em sua 6º edição. Marcos Bagno é doutor em língua portuguesa pela Universidade de São Paulo, além de ser um grande estudioso em Linguística, também é tradutor, poeta e contista premiado. Essa obra tem como objetivo apresentar como o preconceito linguístico está enraizado em um preconceito social, intensificando-o ,sendo portanto, excludente. Ademais, Bagno mostra cientificamente a falta de fundamento desse preconceito, o que torna o livro, completamente interessante. A citação de autores(em suas respectivas gramáticas normativas) considerados renomados nessa área, como Napoleão Mendes de Almeida e Domingos Paschoal Cegalla, são questionados e reformulados por Bagno, que mostra uma nova visão acerca do que é considerado “certo” e errado” já no primeiro capítulo pelos mitos do preconceito linguístico. 
   O mito número 1 é: “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente.” Mostrando, logo no início, a importância de mudar a visão de que o português é um bloco compacto. Inserindo, por consequência, as suas variedades. E também, reafirma o conceito de que a norma-padrão é apenas uma idealização. O mito número 2: “Brasileiro não sabe português/ Só em Portugal se fala bem português” se relaciona, parcialmente, com o mito número 3: “Português é muito difícil” mostrando a ideia de que o Brasileiro sabe sim, o português. E como diz Bagno: “O que acontece é que nosso português é diferente do português falado em Portugal.”  (p. 23). Uma vez que, no Brasil, é visível regras de funcionamento do sistema linguístico. O mito número 4: “As pessoas sem instrução falam tudo errado” é fundamental. Pois, retrata a ideia cientificamente, pelo estudo diacrônico(usando o Latim),  que não  há “erro”. Ademais, mostra o que o preconceito linguístico tem enraizado em: “Assim, o problema não está naquilo que se fala, mas em quem fala o quê. Neste caso, o preconceito linguístico é decorrência de um preconceito social.” (p. 43). O mito número 5: “O lugar onde melhor se fala português é no Maranhão”, reafirma a importância da visualização das pessoas acerca das variedades linguísticas; pois cada uma atende a uma determinada comunidade, suprindo as necessidades. O mito número 6: “O certo é falar assim porque se escreve assim” e o mito número 7: “É preciso saber gramática para falar e escrever bem” se relacionam, pois tratam da abstração da norma culta na sociedade, que é utilizada como “correta”, gerando variedades que são desvalorizadas, e decorrentes de preconceitos sociais e portanto, linguísticos. E por fim, o mito número 8: “O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social” que antecede o capítulo 2: “O círculo vicioso do preconceito linguístico.”
   Após essas desmistificações que Marcos Bagno faz para o leitor; pelo capítulo 2, é visível a perpetuação desses critérios na sociedade. É interessante a citação dos três elementos “responsáveis” por essa questão em: “Assim: a gramática tradicional inspira a prática de ensino, que por sua vez provoca o surgimento da indústria do livro  didático, cujo autores – fechando o círculo – recorrem à gramática tradicional como fonte de concepções e teorias sobre a língua.” (p. 73 e 74). Esse círculo, gerador, muitas vezes, de preconceitos, podem ser relacionados com a dificuldade que lutas sociais passam a ter em função de sua variedade linguística. O site “Geledés Instituto da Mulher Negra” postou uma reportagem com o tema: ”Preconceito Linguístico:como isso afeta o empoderamento feminimo”, feito por Stephanie Ribeiro. A autora do texto relata suas experiências sobre o assunto, como: “Medo dos meus erros gramaticais” e “Sendo assim, eu já esperava páginas e machistas acreditando que esse é um motivo para desconsiderar o que eu e tantas outras feministas falamos.”  Mostrando que em função do Preconceito linguístico e social, uma luta importante como essa, passa a ser desvalorizada. E Bagno, tenta justamente modificar esse pensamento com o seu livro. 
   O capítulo 3: “A desconstrução do preconceito linguístico” reafirma esse objetivo, ao inserir as metodologias de mudança. Reconhecer a crise em função do círculo vicioso do Preconceito Linguístico e os mitos enraizados na sociedade é fundamental. Além disso, reconhecer que o preconceito social é a base do preconceito linguístico também é essencial, ou seja, é necessário uma mudança estrutural que pode ser visualizada pelo modo de ensino do português, assim como Bagno retrata: “O problema certamente está no modo como se ensina português e naquilo que é ensinado.” (p. 108). Mostrando uma nova perspectiva para os professores também, e ferramentas que servem como um “manual” para uma mudança de atitude que pode gerar uma reformulação social.
   Sendo assim, o livro “Preconceito Linguístico” sintetiza uma nova dimensão acerca da língua e da gramática normativa. E mostra, por um novo paradigma, que não há “erro de português”, e que tais comentários preconceituosos de uma variedade considerada estigmatizada, na verdade, é também, social. Além disso, Marcos Bagno utiliza uma linguagem acessível que estimula o leitor a continuar. Sendo crítico, relata de modo convicto e “rígido”  do assunto, o que se torna necessário, pois se trata de um tema excludente de uma parte da população. O livro amplia a visão social do leitor, e é uma forma de crescimento humanístico, uma vez que, sensibiliza o senso crítico do sujeito. Por fim, é essencial que educadores da Língua Portuguesa tenham conhecimento dessa obra, pois, além de proporcionar um estudo sobre as variedades linguísticas, também se torna um “manual” para ser um bom profissional. 




(esse meme foi feito pelo Gabriel Bonavigo - um namorado gente boa). 

Espero que gostem dessa resenha, foi escrita com muito amor e carinho. Beijinhos!


Jade Hilario  

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